Tese sobre Fotojornalismo PG5

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O surgimento da televisco fazia com que o fotojornalismo passasse por profunda fase de reflexco, sob pena de se tornar uma espicie de segunda via fatal. Tal fato pode ser comprovado nas paginas da imprensa atual, onde se procura, cada vez mais, veicular imagens que a prspria televisco, por suas limitagues ticnicas e falta de mobilidade, nco conseguiu registrar.

Contudo, nco se deve atribuir este mirito unicamente ` televisco. A grande entrada do capital estrangeiro no pams, a partir da morte de Getzlio Vargas, tendo como ponta-de-langa, ja no final da dicada de 50, a implantagco da Indzstria Automobilmstica, tambim deve ser ponderada. Por um lado, o processo de concentragco desse capital pelas multinacionais, e por outro, o grande capital nacional que passou a absorver a pequena e midia iniciativa privada quando nco absorvidas pela primeira, resultaram no achatamento e proletarizagco da classe midia desta ipoca. Pode-se, assim, constatar que esta classe procurou outros meios para ascender socialmente, ou mesmo para manter seu "status quo". Tivemos, entco, a corrida em larga escala `s universidades, gerando profissionais mais qualificados, que tambim foram absorvidos pelo fotojornalismo, com postura crmtica e nmvel mais elevados.

A realidade polmtica do pams no permodo seguinte, ou mais precisamente, a partir de 31 de margo de 1964, tambim contribuiu de forma ostensiva para o desenvolvimento da linguagem fotojornalmstica. A fotografia de imprensa teve, entco, que ser mais po tica, mais sutil e menos explmcita para poder escapar dos crivos da censura.

Porim, foi a partir dos zltimos anos da dicada de 70 que o fotojornalismo mostrou, de maneira inequmvoca, a existjncia de mudangas no universo da polmtica brasileira. Foi por meio deste que, evidenciando de forma direta e imediata a humanidade e falibilidade dos virtuais ocupantes do poder, promoveu-se um rapido avango na comunidade dos leitores de jornais e revistas nacionais. E foi por meio de suas imagens, afinal, que se revelou a fragilidade incontestavel de uma face institucional que o autoritarismo sempre manteve distante dos olhos pzblicos atavis de severas restrigues ao trabalho dos repsrteres fotograficos.

Nco devemos, contudo, esquecer que essa importbncia pode ser compreendida por outro prisma: o de que o poder se utilizou dela para chegar mais prsximo da populagco e, com isso, ganhar credibilidade e suporte social para promover pequenas mudangas e a acomodagco de uma nova realidade do pams, de uma estrutura monolmtica irremediavelmente trincada.

Nco ha dzvidas de que esse foi um motivo para a revitalizagco do fotojornalismo polmtico. Os fotsgrafos aproveitaram-se desse processo de reabertura, a partir de 1977, e levaram muito mais adiante uma concessco que se pretendia unicamente favoravel ao poder.

Se, por um lado, o texto, agora sem censura, esmerava-se na recuperagco de conceitos fundamentais ` comunidade - democracia, legalidade, retomada do estado de direito e outros - por meio de analises lsgicas e histsricas, a fotografia, se nco desnudava o rei, pelo menos tirava a fantasia dos membros da corte.

Da liberdade de movimentos no permodo populista, ao atual processo de redemocratizagco, temos as diversas maneiras pelas quais o fotojornalismo investiu contra os mitos da imagem oficial, bem comportada, e flagraram a fabilidade dos homens enclausurados no poder. A ironia dos flagrantes inesperados, a revelagco do artificialismo polmtico de repetidas situagues, de fato aproximaram mais a popularidade dos governantes, mas nco exatamente da forma que eles previam ou desejavam.

Apesar do nosso fotojornalismo ter apresentado este desenvolvimento precoce, impulsionado pela nova realidade brasileira a partir de 1959/60, as suas conquistas ainda nco foram incorporadas por completo pela atual imprensa. Enquanto, nos vemculos de carater mais sensacionalista, a fotografia ainda carrega a sua heranga ilustrativa, redundando em informagues ja fornecidas pelas manchetes ou mesmo pelos textos literarios, nos vemculos de maior prestmgio essa tendjncia foi substitumda por simplesmente evitar a fotografia, privilegiando a palavra. A negagco da imagem indica o tipo de relagco que se estabelece, aos olhos do leitor, entre a informagco de facil leitura e a informagco diferenciada. Assim, a fotografia esta associada ` imagem de televisco, ` grande massa nco intelectualizada, e, portanto, o prestmgio se resume em nega-la. Este tipo de postura pode ser facilmente constatado nas paginas do Suplemento Cultural, do New York Times, ou mesmo do Washington Post.

O fotojornalismo, que nas dicadas de 40 e 50 fora o grande atrativo do jornalismo impresso no mundo ocidental, passa por uma progressiva crise de identidade com o advento da televisco. Da mesma forma que nos meados do siculo passado, a fotografia foi o instrumento de revolugco da pintura e artes plasticas, negando a sua veracidade e impondo seu valor interpretativo, o advento da televisco tambim revolucionou profundamente a narrativa cinematografica. Esse conjunto de determinantes tera consequjncias a longo prazo para o fotojornalismo.



-- Enio Leite (focus@focusfoto.com.br), February 19, 2000


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